quarta-feira, 16 de maio de 2012

O Trem e o Tempo- Risomar Fasanaro






O TREM E O TEMPO - Risomar Fasanaro
(aniversário de 50 anos de Osasco)







o trem parou na estação
era maio
o frio gelava meus passos
e a garoa desenhava
uma paisagem sem contornos
Recife se perdera pra sempre

xerém, cajá, araçá
eram apenas lembranças
cristalizada saudade
do que não voltará jamais


Osasco
pelas ruas caminhei
buscando tua alma
procurei-a na poeira
nos rastros dos romeiros
da velha estrada de Itu



busquei
no Glamour da João Batista
o sarong de Doroty Lamour
os passos de Gene Kelly
o sorriso de Ava Gardner
mas eles ficaram em Recife


só encontro aqui
jacó do amendoim
À porta do cinema...
Quem sabe venha da Itália
Quem sabe lá do Japão
Por que não lá da armênia
Ou dos cravos quem sabe venha
Esse amor à revolução?


na Antonio Agu vou em busca
do voo da Asa Branca
na voz de Gonzaga, o Luís
mas apenas o silêncio
acompanha essa saudade


paramos nas Lojas Sis
onde minha mãe comprou
o 1° fogão a gás
continuo caminhando
e na igreja matriz
reencontro santo Antônio
que é de minha devoção


missa, comício, quermesse
domingos no Estoril
reuniões secretas
tecem a emancipação
que burburinho é esse?
São cédulas que me entregam


me falam do SIM e do Não
agora somos cidade
agora temos prefeito
depois...
tempo de intempérie
explode dentro do peito
paixão pela liberdade
paixão que não tem mais jeito


fábricas param
baixa a repressão
tanques de guerra invadem
o centro da cidade
tempo de armadilha


tempo de barreto, lamarca, espinosa
tempo de marília
tempo de miranda, albertino, roque
tempo de dilema e de iracema
tempo de aninha,miranda, ibrahim
tempo ruim


tempo de tortura
de mortes, exílio

e o silêncio pairou sobre a cidade


de repente
novamente ela se agita
as canções invadem as ruas


é tempo de festival
afrânio, celsinho, dudu
rubens , ricardo, chu
homero, césar, varinha,
Paula, pálida pequena
No asteroide X
Embaladeira
Fim de Reza


Nas ruas o cristo negro
É o teatro expressão
reuniões, comícios, passeatas
anistia, diretas...
caminho por essas ruas
cadê o glamour?
a igreja
o Estoril?
dinamitaram as paineiras
que um dia vestiram de rosa
o tietê que morreu


o tempo devorou tudo
o glamour , o estoril, a farmácia do seu Vasco
papelaria do galepe
o tempo também levou
a febre das greves
as quermesses, os festivais
a euforia das diretas
o tempo também levou
o trem da vida passou
carregando
meus amores
meu soluço
minha dor
e esta saudade infinda
desse tempo que passou.

Fonte: 
http://risomarfasanaro.blogspot.com.br/2012/02/ 
Por: M a r q u i n h o s